O que é preciso pra se
viver um grande amor?
Banalizou-se o grande
amor.
Aprendi esses dias
despretensiosamente nos caminhos. Aprendi que, quando se faz paz no coração,
quando se é amor e só, não se vê o tempo passar.
Caramba... e como será
isso de não ver o tempo passar?
Imagino um sentido de
cores leves, que se pode olhar a fio, sem descanso, sem cansaço nenhum. Imagino,
ainda, dias que amanhecem leves, tranquilos sob o sol da manhã. E se não fizer
sol também, quem liga? O sol sai do encontro, sai do sorriso, sai das palavras
bonitas ditas, ou dos atos verdadeiros.
Imagino que deva ser
bom ter isso, menina. E de alguma maneira só saber de poucas coisas da sua
vida, parece que até a minha alegrou! E eu entendi que, na verdade, é possível
sim se viver um grande amor.
E grande amor tem a ver
com quê, afinal? Quem é que pode ser o nosso grande amor?
Novamente, a menina: o
amor te aceita como você é.
Caramba... e como será
isso de aceitar o outro como ele é e ser plenamente aceito também?
Já cheguei a pensar que
isso era, na verdade, ser retrógrado: ora, como aceitar algo que está errado? O
ideal não seria sempre caminharmos adiante, avante, e melhorar?
Ora... Bruna, Bruna...
você sempre na virgianice de entender tudo ao pé da letra!
Nada, Bruna, acorde,
abra los ojos: aceitar o outro é simplesmente entender cada momento dele,
gostar da pessoa, e não querer formatá-la dentro dum molde que você construiu
do outro. Tem-se que amar tudo que é do outro; tem-se que aceitar tudo o que é
do outro; tem-se, ainda, defender tudo o que é do outro!
Pois tanto ouvi nos
últimos tempos sobre o quanto de coisa eu deveria mudar, e nunca entendi
direito... Ora, por que preciso mudar? Preciso mudar pra que se goste de mim?
Cansa... cansa estar sempre errada, cansa não se ouvir nem ao menos uma palavra
que faça querer continuar e sentir-se plenamente você mesmo.
Menina, obrigada!
Obrigada milhares de vezes. Eu sou quem sou, e minhas mudanças serão, claro,
precisas, e feitas, mas a seu tempo, em um processo natural, lindo, silencioso,
verdadeiro. Mas quem me gosta, goste-me assim, como estou, como sou, pouco
importa o verbo... se é estado ou estado permanente, isso tem pouca valia.
Mas daqui pra frente encanta a paz, a vontade de seguir, e só eu sei como imagino ser lindo sentir que o tempo não passa. Que a vida é uma estrada longa que pode ser traçada ao lado. Que haja então ar livre, bicicleta, poeira da terra do chão, café coado cedinho junto com a manteiga derretendo no pão fresco; que haja, ainda, amor aos baldes, e sons de criança, e fim de tarde da janela, debaixo da árvore, de pés descalços. Não quero que a gente calce os pés pra viver...