segunda-feira, 17 de abril de 2017

das roupas que encurtam


e de virar mãe, vêm ensinamentos que teriam vindo, embora talvez tarde, embora talvez não.


as calças do neném vão ficando curtas e não, não vão voltar a servir.

nada que se perde vai voltar a caber.

o passado não vai voltar a ser.

esse ensinamento de tempo que passa só se tem de fato e eficiente assim, acredito: quando se vê o tempo passar num ser.

e como doar a roupa? e se é a roupa de que você mais gosta? como se desfazer?

eu vou guardando tudo numa caixa colorida, sem coragem de passar aquela fase que passou, ela passou, mas, meu deus, por que eu não deixo passar?

porque sou alguém apegado. e o apego ocupa espaço. na caixa colorida em que jazem as roupas que já não servem, nada mais pode ir. só vão as roupas passadas já de passado que não volta. porque eu sei que tem uma revista que eu guardo há muitos anos e que nunca mais eu vou abrir. mas ela está ali em seu lugar, surdo, mudo, reativante, potencial, querendo reviver, mas não vai, sabemos bem.

de querer de volta tem o cheirinho de quando meu filho nasceu, tem barca em lagoa floripense, tem dias de alegria efusiva, tem macarronadas em grupo, tem tantas coisas que o passado guarda consigo.

vem, mas demore a chegar.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

dos enlaces dos caminhos


e a vida segue taciturna, dum jeito estranho pra entender, de dias que re-trazem alegria mas que se retiram logo em desenlaces de desentendimentos. como se alguns personagens destinados estivessem a ser carta torre, a ser caos.

e de conversas sem pressa eu admito: sou um contra-argumento. penso exatamente aquilo que eu não penso, sinto apenas aquilo que nego.

a vida segue, não sem dor, não sem certa surpresa pelos caminhos que me levam...

de nascimento sob a torre e de encontro com enforcado, só resultaria escombro em destruição, pois só assim seria, só assim se poderia ser verossimilhante.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

nossa sina é se ensinar...


Sabia eu, sem ver você, o quanto seria possível me apaixonar?

Será que alguém consegue sentir assim tão puro de outra forma?

Você me fez outra quando eu ria entre as dores e forjava que aquilo passaria - e não passava -, que você chegaria - e não chegava! Eu nessa mundana pressa, e você que nem sabia dessa gente tanta e dessa pressa toda...

Minha vidinha que ali comigo estava todos os dias, você sabia que eu já amava e mais ainda te amaria quando te vi sair de mim?

Não, não há maior amor no mundo. Vi seu rosto ao chegar, e pros primeiros dias seus na Terra, nessa experiência humana, parte ao meu lado, sinto o coração explodir, irradiar uma felicidade e um amor que sinto vontade de dividir com cada ser vivente, com cada minuto.

Seus movimentos, cada e todos, seu chorinho que me alegra e me faz quase gargalhar de alegria por você ter chegado. Eu não sabia que te queria tanto, meu pequeno.

Não tem mais Bruna sem os seus resmungadinhos pela casa, sem a sua companhia, como poderia viver? Você tinha de estar aqui, me ensinando com biquinhos despretensiosos, com gestinhos que me ganham e me fazem querer e ser o melhor que há em mim, e só.

Precisamos nós de mais alguma coisa? Agora, pequeno, dá pra mãe entender cada dificuldade, cada choro engasgado, cada revolta, cada medo, cada receio que ela sentiu nesses meses passados. Era tudo pra ela, agora, te olhar e entender que, pro melhor acontecer, é preciso primeiro abandonar as velhas roupas, deixar as velhas mágoas, os velhos hábitos. Não tem mais dor que caiba num peito que tem apenas cuidado. Não tem mais lembrança ruim que sobreviva quando penso na hora que ganhei-te.

Ah, gratidão eterna, e a todo tempo, pelo maior presente e pelo meu renascimento quando você nasceu de mim.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

errado mesmo é amor menor



O que é preciso pra se viver um grande amor?
Banalizou-se o grande amor.

Aprendi esses dias despretensiosamente nos caminhos. Aprendi que, quando se faz paz no coração, quando se é amor e só, não se vê o tempo passar.

Caramba... e como será isso de não ver o tempo passar?

Imagino um sentido de cores leves, que se pode olhar a fio, sem descanso, sem cansaço nenhum. Imagino, ainda, dias que amanhecem leves, tranquilos sob o sol da manhã. E se não fizer sol também, quem liga? O sol sai do encontro, sai do sorriso, sai das palavras bonitas ditas, ou dos atos verdadeiros.

Imagino que deva ser bom ter isso, menina. E de alguma maneira só saber de poucas coisas da sua vida, parece que até a minha alegrou! E eu entendi que, na verdade, é possível sim se viver um grande amor.

E grande amor tem a ver com quê, afinal? Quem é que pode ser o nosso grande amor?

Novamente, a menina: o amor te aceita como você é.

Caramba... e como será isso de aceitar o outro como ele é e ser plenamente aceito também?

Já cheguei a pensar que isso era, na verdade, ser retrógrado: ora, como aceitar algo que está errado? O ideal não seria sempre caminharmos adiante, avante, e melhorar?

Ora... Bruna, Bruna... você sempre na virgianice de entender tudo ao pé da letra!

Nada, Bruna, acorde, abra los ojos: aceitar o outro é simplesmente entender cada momento dele, gostar da pessoa, e não querer formatá-la dentro dum molde que você construiu do outro. Tem-se que amar tudo que é do outro; tem-se que aceitar tudo o que é do outro; tem-se, ainda, defender tudo o que é do outro!

Pois tanto ouvi nos últimos tempos sobre o quanto de coisa eu deveria mudar, e nunca entendi direito... Ora, por que preciso mudar? Preciso mudar pra que se goste de mim? Cansa... cansa estar sempre errada, cansa não se ouvir nem ao menos uma palavra que faça querer continuar e sentir-se plenamente você mesmo.

Menina, obrigada! Obrigada milhares de vezes. Eu sou quem sou, e minhas mudanças serão, claro, precisas, e feitas, mas a seu tempo, em um processo natural, lindo, silencioso, verdadeiro. Mas quem me gosta, goste-me assim, como estou, como sou, pouco importa o verbo... se é estado ou estado permanente, isso tem pouca valia.

Mas daqui pra frente encanta a paz, a vontade de seguir, e só eu sei como imagino ser lindo sentir que o tempo não passa. Que a vida é uma estrada longa que pode ser traçada ao lado. Que haja então ar livre, bicicleta, poeira da terra do chão, café coado cedinho junto com a manteiga derretendo no pão fresco; que haja, ainda, amor aos baldes, e sons de criança, e fim de tarde da janela, debaixo da árvore, de pés descalços. Não quero que a gente calce os pés pra viver...

sábado, 25 de julho de 2015

das mentiras e das fatais desilusões



há que se pensar antes de agir de qualquer maneira que, ao aparecer,vá causar ferida.

há que se escolher bem as palavras. porque, quando ditas, se feitas em vão e se descobertas mentiras, não se pode mais voltar atrás.

há que se parar de culpar o outro por tudo. you'd better dig and take a look inside yourself.

as mentiras vêm à tona. uma mentira pode salvar seu presente, mas condena seu futuro. e coloca em risco todas as verdades. contudo, aprendi ao longo do tempo que procurar meias verdades ou caçar mentiras, embora num primeiro momento pareça ser uma solução mais eficaz do que entregar a vida ao tempo e esperar, tem ônus irreparáveis. é como uma indução àquilo que o Universo naturalmente faria por nós. por cada um de nós. não me convence a ideia de que o grandioso Mundo deixaria um ser que age em retidão ser cerceado e atingido por algo que verdade e pureza não seja. eis que, sem acelerar o processo e a ordem natural das coisas, tudo o que nos é dado sem plena justiça nos é posto à frente. pela exata divindade das ações: não fica algo sem encaixe aqui. isso é claro já. em mim muito foi procura até então. desde há pouco decidi simplesmente confiar, acreditar e me abster de desconfiança. isso porque é mais fácil mesmo. mais simples. deixar o rio seguir seu curso é o que melhor se pode fazer. assim deixa-se o rio-Universo fazer seu trabalho da exata maneira como tem de ser, nos conferindo, assim, nem mais nem menos do que o justo.

há que se pensar, sempre. e não fazer ao outro coisa alguma com que não queiramos esbarrar.

há que se escolher bem as palavras e os atos, e ser conduzir pela verdade do que vem de dentro de nós mesmos. a verdade não é uma entidade chata e monitoradora. é simplesmente o que é natural. o que sai e flui.

verdadeirize-mo-nos!

segunda-feira, 13 de julho de 2015

da atitude


agir é o que?

quem define o que é tomar atitude?

olha, devo dizer que atitude está vinculada à vontade.

possível certamente tudo é. todas as curvas da estrada estão no campo das possibilidades. afinal, cria-se um universo paralelo para cada coisa que poderia ter sido. 

nós poderíamos ter sido e, certa estou, em algum universo no litoral nós somos um, estamos juntos numa casa grande de mezanino, de peito aberto pra vida, de música que explode, de vida que se faz na outra vida, de amor dum tanto que, agora, eu nem mesmo vislumbro.

mas entre o possível e o impossível, prefiro o que tem menos chance de me machucar.

não culpe o outro por ele não ter vontade. não ter motor.

querer gostar não basta. querer ficar ao lado não basta. 

é preciso que a vontade tome conta de nós de tal maneira que fiquemos fortes diante de qualquer adversidade.

é preciso que tenha-se uma vazão de querer tão grande, mas tão grande, que fiquemos pequenos diante do que rubra, do que berra em nós que o dia não tem mais sentido sem o que se sente.

é preciso que não se sinta sozinho e nem se sinta saudade, porque o outro é em você.

me perdoe por querer isso. perdoe também por não querer com você. é, fato, está certo ao dizer que eu não sinto. não sinto e sinto muito pelo meu não sentir. gostaria de sentir você. 

mas acho que nosso tempo passou...

quarta-feira, 8 de julho de 2015

do machismo estrutural


para além do aborto masculino, outras verdades sejam ditas sobre o machismo estrutural que assola o mundo - e que nós, sem querer, giramos a roda a todo momento.

sem novidades sobre a concepção de um filho. é o que é, sempre foi da mesma maneira. não somos planárias ou platelmintos. é feito em conjunto. haver amor ali ou não é só um detalhe - ainda que na minha cabeça de princesa quadrada e ridícula, o amor tivesse quase que a obrigação de fazer parte disso. mas, ledo engano, querida: o amor está em algumas camas só.  não em todas. não estava na minha.

dentre milhares de baboseiras que escutei recentemente, eis a maior: mulheres solteiras que pedem pensão pro pai de seus filhos o fazem porque ainda gostam deles e querem chamar a atenção.

oi??

não. elas não gostam deles. elas podem simplesmente ser trabalhadoras pra caralho e não terem a quem recorrer pra custear a chegada de um filho, feito a dois, a propósito. 

elas podem, inclusive, ter feito isso por ser o último recurso. ora, venhamos e convenhamos: acionar a justiça é o meio mais demorado e complexo de se conseguir algo. quando uma pessoa opta por isso, garanto: há uma chance grande de ter sido essa a única escolha.

elas podem ter simplesmente visto que, de outra forma, teriam de continuar arcando sozinhas com tudo. e isso está longe de ser justo. elas podem ter percebido, logo cedo, que naturalmente o pai da criança não iria se prontificar a fazer nada que envolvesse responsabilidade. e amar é se responsabilizar. ter filho não é dar chocolate e pirulito e ensinar a andar de bicicleta. tem outras coisas importantes também.

claro que pode existir uma parcela de mulheres que, de fato, ainda gostam dos pais de seus nenéns e querem de alguma maneira fazer uma birra se o cara não quer assumir, sei lá. mas mesmo essas mulheres: caso esses homens fossem homens (e não estou falando de comer mulher pra caralho, porque isso está longe de ser hombridade), elas nem teriam COMO acionar a justiça para eles colaborarem, uma vez que eles colaborariam por pura e espontânea vontade, a despeito de estarem ou não com elas. elas nem prerrogativa teriam para isso. 

ou seja, fica claro: qualquer homem que tenha sido condenado pela justiça a pagar pensão alimentícia a um filho NÃO É UMA VÍTIMA. não é JAMAIS uma mulher que decide o valor ou as condições de um pagamento sentenciado judicialmente: quem determina é a justiça. e pronto. uma mulher que pedir um absurdo a um homem que não tiver condição de pagar simplesmente não será atendida em seu pedido. é simples. para tais análises e decisões, há toda uma estrutura. longe de mim dizer que tudo está correto no meio judicial. o ponto é que mãe que pede valores exorbitantes e irreais numa ação processual certamente, fatalmente, obviamente não terá sucesso. simples. um juiz não sai acreditando em conto de fadas. ele costuma ler o processo e sentenciar de acordo com as possibilidades de cada um.

cabe lembrar o óbvio: os 30% dos rendimentos que se convenciona sentenciar aos pais não casados com as mães de seus filhos são de extrema importância, úteis, fantásticos. mas alguém imagina uma mãe recebendo o salário e separando 70% para si mesma e 30% pro seu filho? não há essa divisão entre mãe e filho. e não deveria, em um mundo ideal, haver entre pai e filho também. 

homens bons, deles o mundo tá cheio. eu pessoalmente conheço vários. e acho, hoje em dia, que sou bem capaz de reconhecer um quando o vejo. não faz meu estilo ser moralista, feminista, e acreditar nos clichês de que homem é tudo igual, homem é tudo safado... pessoas são potenciais de tudo. de todos os lados e aspectos que se pode imaginar.

reza a lenda - e eu boto fé! - que meu pai ficou grávido com minha mãe. ele levava frutinha cortada no trabalho pra ela e a presenteou com uma meia kendall pra ela não ter varizes. depois que nasceu a minha irmã, ele lavava fraldas de pano (anos 80...) no tanque loucamente. ele não é um herói por isso. ele é pai. fez - e faz - a parte dele duma maneira que é difícil falar sem encher o olho de lágrimas. que o universo prepare a meus filhos um pai que seja ao menos um décimo do que o meu é. já fico tranquila e descansada sabendo que eles estão em boas mãos.

a grande questão nessa história é que é muito simples para um homem simplesmente abortar um filho e dar uma razão qualquer que seja. geralmente alguma razão baseada num outro machismo. fica a dica: não tá pronto pra ser pai? não gosta da mocinha? use preservativo. não coloque essa responsabilidade apenas na mão dela, pois a responsa é dos dois. no caso de uma gravidez, é fato que quem levará a maior parte da responsabiidade é a mulher, uma vez que o neném tá grudadinho, fisicamente, lindo e peixinho, nela. e tudo bem. é lindo sentir isso. apenas não me parece correto ou digno, ao ser cobrado a contribuir financeiramente, que um pai aja como vítima das circunstâncias e da maldade diabólica das mulheres, safadas que são desde os tempos mais primórdios, né?

antes de apontar o dedo na cara de uma mulher e dizer que ela pediu ajuda judicial porque é fraca, ou porque ainda gosta do cara e quer 'causar', ou porque é uma exploradora, seria bem bacana pensar... depois de pensar, seria ainda mais bacana pesquisar, entender do que se trata uma pensão alimentícia e compreender de que maneira um valor é determinado. senão caímos na baboseria machista de sempre, mais do mesmo, conversa pra boi dormir que mantém a gente no mesmo estado e na mesma frequência de inutilidade.


quarta-feira, 10 de junho de 2015

venha o que vier...



e num lugar longe, bem longe, lá no alto da colina, onde vejo a imensidão e a beleza que fascina, ali eu quero morar, ali quero construir nosso castelo de amor.

numa decisão que parece tão boba, de definir ou in-definir, re-definir, passar-longe-de-definir.

decidi não definir você. não saber das cores sociais que te podem condicionar comportamentos.

te quero livre, meu pedaço. livre de qualquer amarra a que pessoas e cidades possam te condenar. 

te vejo sem sapatos, descalços pés na terra, me ensinando o que você já deve ter, sinto, de outros lugares em que já viveu.

te vejo sem importar se é feminino ou masculino, seja seu gênero seu, seja o que você sentir vontade de ser. eu simplesmente vou te ajudar, te guiar, te dar o melhor que eu posso.

você pode vir como você quiser. eu saberei por inspiração divina e vontade ser pra você tudo que você precisar que eu seja.

não me importa a sua forma. não me importa te classificar como eu tenho virginianamente feito a vida toda com o mundo. me ajuda a desconstruir isso? 

vamos aceitar tudo o que é do outro
vamos defender tudo o que é do outro

você pode ser você. embora não esconda a satisfação lá dentro que seria ter você na terra, no mato, nas plantas, na natureza, na arte. te darei essa chance, te tiro daqui logo, e me desculpe por tanto concreto nesses meses, nós logo vamos embora pra nossa casinha de portas azuis, eu prometi.



nós vamos plantar e vamos viver de mansidão, de placidez, e você me traz o ar que eu pedi antes de você vir, me ensina a respirar.

te dar uma classificação logo agora seria, de fato, limitador. apenas venha. me deixe olhar você antes de saber maiores detalhes. deixe-me te desconstruir, deixe te pegar um serzinho humano nos braços primeiro, e depois, na maior alegria que se poderia ter nesse mundo, te dar um nome pra você viver na terra. um nome pra eu chamar enquanto você me chama de 'manhê' e eu acordo a cada dia mais feliz por o Universo ter me dado a minha companhia de vida.




domingo, 31 de maio de 2015

do outro


o outro pode ser um espelho bom
o outro é a medida que temos pra nos enxergarmos

mas, algumas vezes, o outro é o estranho mesmo
é o que não nos vê - só olha

e o outro também teima em não ver lado bom algum em você porque tem feridas também, feridas dessas que você não entende, que você acha que passaria por cima com resiliência, mas que o outro não conseguiu, não quis, não deu, e essa é a história

aí você já deixa de se importar, não porque não se importe, mas porque não tem mais energia

às vezes é preciso simplesmente abrir mão. faz bem e dá leveza entender que, em certos casos, seja pelas feridas passadas, seja pela circunstância atual, não adianta fazer absolutamente nada: por mais que você dê o seu melhor, e tente, e fale, e berre, o outro não vai ver e não vai e pronto!

então nessa hora é melhor mesmo você destentar - o que não significa que você não queira mais que tudo fique bem. é que às vezes, por mais que a gente queira deixar pro passado o que lhe é próprio e seguir, há os outros, na mesma avenida, no mesmo lugar, estancados, parados, teimando em lembrar só do que foi ruim

e ainda que a gente queira devolver as tristezas jogadas, acho que o digno é não devolver, não

essa escolha dói um pouco, aceitar ainda é dolorido no mundo do nosso ego

mas aceitar ainda é a melhor saída e, doendo ainda, a que dói em menor intensidade. não aceitar parece que endurece, enrijece o nosso dia

o outro é, e ao outro deixe ser. deixe-o ser como é, não tente mudar, mesmo porque só se pode agir no nosso próprio ser. então é justo também que se pare de tentar provar qualquer coisa, e deixa o tempo, o tempo bonito correr...

porque o ataque cessa

a ferida cura

os dias passam e no fim das contas só o que vai importar é o que foi sincero e o que foi feito sem rancor

[mas não esqueça que, para o outro, o outro é você

o ataque é seu

quem não enxerga o melhor do outro pode ser que sejamos nós mesmos!

pode ser que o outro também desista da gente, não por ser um fraco, mas por ver em nós as mesmas feridas que neles nós vemos]

prefiro, ainda, manter por perto só o que me faz bem :)

sábado, 18 de abril de 2015

das lembranças esquecidas



ao longo do tempo, as memórias vão se desfazendo, como se borrassem. e o pensamento tenta resgatar baseando-se em pedacinhos de lembrança, de bairros de casas.

não tenho das melhores memórias. lembro bem dos aniversários dos outros, dos antigos. mas dos fatos em si, do que aconteceu comigo, lembro-me bem pouco. esvazio inclusive importâncias por ser assim, pois desconstruo sentidos e é como se pedaços dos outros não tivessem sido. desculpem-me todos... mas de fato não lembro das coisas que você me falou aquele dia tampouco me lembro de quando fomos juntos àquele lugar incrível. no entanto, lembro-me bem das coisas que não fiz.

por vezes, basta uma ajuda para que eu consiga realmente lembrar de algo. mas, no geral, vivo dum modo intenso o presente. cada paixão nova é imensamente mais forte do que a antiga. cada novo dia tem a obrigação e o compromisso estreito de falar a mim mais perfeito do que o dia anterior. talvez seja sem querer essa a minha meditação. 

agora, depois de tanto não lembrar e de nem mesmo querer, tenho revivido lugares. descobri onde foi que brinquei, em 91, num quintal lindo de caquinhos e cimento, numa espécie de porão, com uma pipoqueira que acendia uma luz. e tinha uma fábrica bem grande de tijolinhos na subida logo na frente da casa, com as janelas quebradas. mas agora é um conjunto de prédios. como muitos cenários de quem nasceu nos anos 80. 

faltam certas coisas que pretendo resgatar.

aurora vai ter a vidinha construída sob meu olhar amando. daqui a 20 anos quero poder responder a ela onde mesmo foi que ela brincou aquele dia. onde foi, mãe? ah, como eu não vejo a hora de escutar um serzinho pequeno me falar: "ô manhê...". eu vou saber sempre responder, vou ser sempre a guardadora das memórias que na lembrança dela estiverem borradas. além disso, assim que ela chegar, vou automaticamente virar uma ótima cozinheira e aprenderei instantaneamente, como se um programa instalado à la matrix, a cuidar de roupas brancas.