quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A varanda...


Varanda é como possibilidade de horizonte. Na varanda, onde a lua se levanta, nossa rede se balança, serenata pra acordar. Mesmo no alto de prédio na cidade grande, mesmo assim. Varanda é a janela maior, onde dá pra debruçar. É onde começa a visão, onde termina o interior da casa, num meio termo entre a gente mesmo, o nosso lugar e o lugar todo. Estranho que eu queria tanto uma, de frente só pro verde porque de concreto já basta o dentro-de-casa. Minha vista fica tão presa dentro da minha casinha pequena que parece vazia. Na varanda a criança se debruça; na varanda, onde o ar anda depressa, vai embora na conversa nossa pressa de ficar. Só fica a vontade de uma rede, estender almofadas, tocar músicas daquelas que enchem o coração de alegria, ter ao lado uma boa companhia, conversas leves e risadas sem fim. Se eu tivesse uma varanda, daquelas grandes que cercam quase a casa toda, com chão de madeira, não sairia de lá nunca, e ainda colocaria um sofá, que é praqueles que não gostam de sentar no chão ou pra eventualmente dormir por lá mesmo.

Além de mim, sei agora que outras pessoas espalhadas por aí também querem uma varanda, também querem uma rotina que envolva uma vista verde, música, assistir a chuva, contemplar a possibilidade de horizonte que a varanda oferece. Na varanda, onde a flor se arremessa, onde o vento prega peça, nos traz festa pelo ar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

that's all folks!


Toda sintonia acaba. Acaba porque o ser humano é tão finito na existência quanto nos sentidos. Essa história de que "se é amor, não acaba" é mentira, é balela, e na verdade todo mundo sabe disso: só serve pra gente culpar, inculpar, justificar as mentiras que contam pra gente. Mentiras necessárias. Aliás, as mentiras garantem todos os sorrisos e, depois de um tempo, todas as lágrimas. As palavras ficam mesmo ao vento, e dá uma vontade louca de lembrar do último beijo, do último abraço sincero, do último sorriso que você ofereceu e o último que o outro coração te dedicou. Mas quando um fim se põe, pega desprevenido, pra doer mais. Afinal, dor pouca é bobagem. Fins cheios de tentáculos, daqueles que vão aos poucos, até findar de vez, são sem graça. O fim inesperado tem cor cinza, não combina nada com o dia ensolarado que faz lá fora, descolore de vez a vida, tira as possibilidades, deixa os sonhos mortos e esquecidos, já que de nada adianta mantê-los na lembrança.

Eu tinha ainda planos, mesmo com tantas evidências de que estava tudo fora da ordem. Eu vou sentir falta de tudo, absolutamente tudo, do olhar de criança, sobretudo. Eu devia ter olhado mais nos olhos dele, acho. Talvez tenha me faltado coragem de olhar e ver o que eu não queria ver, porque viver de amor-e-cabana é bom demais. Mas uma hora fui obrigada a entender, de vez, que o problema não está em mim. Não há culpa desse lado, isso conforta mas também nem adianta de nada.

Agora é só me acostumar de novo com a solidão da minha casa pequena que parece vazia e aceitar uma coelhinha bonitinha de presente pra ter barulhinhos pelos cômodos...