segunda-feira, 21 de julho de 2014

da falta

tem estratégia pra enganar a gente mesmo. os olhos mentem dia e noite a dor da gente. eu minto porque acho mais fácil assim: minha razão se convence de tal maneira que em pouco tempo passo a acreditar e pronto, tá resolvido.

mas no fundo, num fundo que prefiro não tocar, eu sinto falta. eu sei a falta. eu quase a consigo tocar com os o olhos, sei a cor, sei até mesmo em que cantinho eu a guardei. coloquei numa caixa colorida, encapada com papel de presente, e deixei ali. passo os olhos por ela, rearranjo, endireito pra não destoar das outras caixas todas, arranjadas e endireitadas. olho bem pra ela e sinto uma vontade de abrir. mas uma vontade das que a mão quase treme. não, não, deixa pra depois. deixa pra abrir essa caixa quando de algum modo ela puder esboçar sorrisos. por ora, ela esboçaria só falta.

de todo modo, quando passo os olhos pela caixa bonita, é como se eu pudesse dizer exatamente tudo que há dentro dela. sei, quase sinto de tão real. tem vezes infinitas de risos, tem conversas boas, tão boas, mas tão boas, das que não se encontra toda hora. tem risos sinceros, tem contação de histórias daqui e daí, tem caminhos percorridos juntos, separados, mas sempre compartilhado. tem música, tem bastante música que não tinha sentido e agora tem, só que agora? pô, agora não dá, agora é melhor mesmo eu re-significar, de novo, de novo. eu não sei se aguento isso mais uma vez... é, agora lembrei do que tem na caixa também: tem precipitação. tem medo. tem fim.

e o fim é belo e incerto, depende de como você vê!

deixa a caixa lá. volto em alguns meses pra tirar poeira dela e quem sabe eu já consigo abrir e sorrir ou, melhor, já consigo simplesmente passar o olho e deixá-la quieta no lugar sem que ela me lembre, gritando, que eu sinto falta.

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