segunda-feira, 7 de maio de 2012
do discurso do 'eu'
uma dessas lições que eu aprendi com o tio marco. tio marco é uma daquelas pessoas que você tem vontade de passar a vida inteira escutando falar, contando histórias, inventando teorias, sejam válidas ou não. afinal, a validade pouco importa! aliás, eu passaria a vida junto com toda a família do tio marco - e que chamo de 'minha' sem medo de ser feliz e com todo amor que há no coração! pelo simples fato de que todos são encantadores cada um do seu jeitinho, no seu falar limeirense que tem aquele L que dizia 'minha Linda' lá os primórdios dos anos dourados e loucura e quinta-i-breja.
enfim, voltando ao referido discurso do 'eu'. isso irrita o tio marco. fato, nunca ouvi ele falar de ninguém. ah, minto, já ouvi sim: ele falava de um sobrinho da tia denise que ele gostava demais, e adorava o cara e era fã do cara. só. de resto, o assunto é sempre transcendental. atemporal. sempre enche os ouvidos e faz o coração ficar feliz e cheio de novos termos, nova vida. bom, coisas de casa do tio marco que só estando ali mesmo pra saber. ai, caramba, que saudades!
novamente, voltando ao ponto: o mundo tá doido dum tanto que as pessoas não percebem seu discurso do 'eu'. é o tempo todo, como se uma disputa fosse. cada um conta de si, e enquanto o outro fala nada se escuta: afinal, é apenas a espera para que se inicie um discurso de si mesmo, repleto de competições sem fim, de quem é mais engraçado, quem teve o melhor fim de semana, quem tem a história de amor mais complicada. é bom ficar atento, afinal, todos podem cair nessa. e, mano, é CHATO pra cacete escutar alguém falando de si desmedidamente! calma, não é que não se possa falar da gente; pode, claro, compartilhar é super saudável, contar uma história, pedir uma ajuda, contar como foi sua semana só pra trazer a pessoa pra sua realidade um pouquinho e tal. mas só. chega. nada de se estender e ter sempre um comentário sobre o quanto a SUA vida é mais legal, o SEU ônibus demora mais, o SEU trabalho é mais importante e o SEU namorado é mais sensível. na carência de contar sobre o que é SEU, faça um diário. dá super certo! e tem vantagens: a memória seletiva. escreve só o que quer lembrar daqui uns anos, e pronto, da parte chata ninguém vai lembrar. fantástico!
a propósito, vale ressaltar que muito pouco do que a gente diz de nós - e até do que sabemos sobre nós - é real. não se trata de quem somos realmente. trata-se, na verdade, duma máscara que é mesmo difícil de reconhecer. tudo que nos disseram, nos fizeram acreditar sem questionar, e mesmo tudo isso que se vê pelas ruas é só miragem. nada disso existe. o que existe é muito mais sutil e muito mais poderoso. e é a ausência disso tudo que permeia os discursos do 'eu' espalhados por todos os cantos, que se pode ouvir toda hora, toda hora, simplesmente toda hora...
basta olhar a natureza. ela é, majestosamente. uma flor é de cores, exala perfume, colore, alegra, e não fala. não discursa, não exalta seu nascimento nem sua prole. não se orgulha: ela é! as maiores jóias vistas no planeta Terra nada dizem: são espetáculos, como o pôr-do-sol, a manhã rosada, as quedas d'água que saem lá de cima, descem as serras, escorregam nos nossos olhos que se enchem de beleza e vida. ah, como eu preciso aprender ainda a simplesmente ser, como agradeço por ter acordado e ter vivido mais um dia e andado por mais uma estrada nova e visto mais lições dessas que vi, que pude sentir enquanto o dia se estendia em belo céu azul claro.
PS: olha, depois dum dia desses, fica a certeza cada vez maior de que nosso encontro foi diferente de tudo, tudo! foi reencontro - e você tentou me mostrar desde o primeiro dia. caramba... que sorte a nossa, hein? :)
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