quinta-feira, 28 de abril de 2011

era uma vez, no mundo real


Ah, minha amiga, minha flor, meu refúgio de realidade. É bom ignorar a verdade quando ela é tão desgastante. A gente foi crescendo e entendendo os propósitos das pessoas, e hoje já sabemos o quão vil alguém pode ser. Meu egoísmo e a sua loucura são perdoados quando se pensa no tanto de indignidade que vemos por aí. Hoje, nós temos tantas certezas cristalizadas, como o fato de que os homens são mesmo animais e nunca, jamais algum deles será capaz de nos trazer a felicidade absoluta. Porque felicidade absoluta precisa de entrega e encontro furtivo todos os dias. E nem por sabermos disso nossa vida se colore mesmo. Ah, minha princesa-cigana, somos deusas, loucas, feiticeiras, e não podemos nos permitir sofrer de nenhum modo. E já não sofremos, acredito. Você já leva a vida com essa naturalidade peculiar, com essa leveza de pés descalços, me ensina? O tempo vai passando e nós, mais bonitas, mais seguras, mais livres de tudo. Não se demora o dia em que pegaremos um ônibus pra Minas ou pra nossa aldeia no meio do mar e não vamos nem levar o dinheiro da volta - ou vamos torrá-lo por lá mesmo, com coisas muito mais interessantes que um retorno pra nada, como é nosso retorno pra vida real. Eu e você, detentoras de uma realidade paralela que não É ainda em completude, mas já É em essência e já existe porque é plano nosso.

Eu tenho medo de ter ficado cinza, cinza como São Paulo. Mas aí eu me lembro de nós e se fazem fitas coloridas e bexigas roubadas. Eu digo que não, meu amor, mas eu também queria viver entorpecida. Eu lamento essa cidade, mas nem por isso não sonho com um canto verde-rosa-lilás-azul em que só se consome beleza, ar puro, liberdade e palavras vindas direto do coração.