quinta-feira, 27 de junho de 2013

walden, ou a vida nos bosques 5



Aprendi que o viajante mais rápido [e que mais bem vive] é o que vai a pé.

Costumo pensar que os homens não são os pastores dos rebanhos e sim os rebanhos são os pastores dos homens, pois são muito mais livres. Homens e bois trocam serviços; mas se considerarmos apenas o serviço necessário, veremos que os bois levam grande vantagem, pois a terra deles é muito maior.

Certamente nenhuma nação que vivesse com simplicidade em todos os aspectos, ou seja, nenhuma nação de filósofos, cometeria a asneira tão grande de usar o trabalho animal.

Muito mais admirável é o Bhagavd-Gita do que todas as ruínas do Oriente! Torres e templos são luxos de príncipes. Um espírito simples e independente não trabalha sob as ordens de príncipe algum. O gênio não é criado de nenhum imperador, e seu material não é o ouro, a prata ou o mármore, exceto a um ínfimo grau. 

As nações são possuídas por uma ambição insana de perpetuar a própria memória pela quantidade de pedra malhada que deixam. E se dedicassem igual esforço para alisar e polir suas maneiras? Uma pequena obra de bom senso seria mais memorável do que um monumento da altura dos céus.

A maior parte das pedras de uma nação se destina apenas à sua tumba. Ela se enterra viva.

Muita gente está interessada nos monumentos do Ocidente e do Oriente - querendo saber quem os construiu. De minha parte, eu queria saber quem, naquela época, não os construiu - quem estava acima dessas miudezas.

Aprendi (...) que dá incrivelmente pouco trabalho obter o alimento necessário para viver (...); que um homem pode ter uma dieta simples como a dos animais, e manter a força e a saúde.

E, por favor, me digam o que mais pode desejar um homem sensato, em tempos de paz, num almoço normal, do que uma quantidade suficiente de espigas de milho verde cozidas com sal? (...) E no entanto os homens chegaram a tal ponto que muitas vezes passam fome, não por falta do necessário, mas por falta do luxo.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

pra quem não sabe que é


Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção
Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão
Eu quero um gole de cerveja no seu copo, no seu colo e nesse bar
Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja
Não quero o que a cabeça pensa: eu quero o que a alma deseja
Arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo, tenho pressa de viver!
Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar

Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem tem essa pressa de viver
Meu bem, mas quando a vida nos violentar, pediremos ao bom Deus que nos ajude
Falaremos para a vida: "Vida, pisa devagar. Meu coração, cuidado, é frágil;
Meu coração é como vidro, como um beijo de novela"

Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão
O meu som e a minha fúria e essa pressa de viver
E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza
E arriscar tudo de novo com paixão
Andar caminho errado pela simples alegria de ser
Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo, vem morrer comigo
Talvez eu morra jovem, alguma curva no caminho, algum punhal de amor traído completará o meu destino.
Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo
Vem morrer comigo, meu bem...

quarta-feira, 19 de junho de 2013

da verdade



por que me sinto bem ferindo os outros - geralmente quem mais gosto, e com quem eu mais me importo?

por que vivo fingindo que nada me atinge e, ao menor sinal de palavras mal utilizadas e pessoas hipócritas, me despedaço?

por que finjo tão bem, como um poeta, e seguro essa barra toda com gosto de fel? é preciso isso?

resolvi fuxicar na verdade.

descobri que sou um poço absurdo de grosseria. de falta de tato. de tudo que aponto no mundo,

descobri que morro de medo de tudo. tenho medo de ser agradável, por isso sou detestável. imponho meu prazo de validade aos outros por ser medrosa.

descobri que minto horrores. minto pra mim mesma o tempo inteiro. nunca vivo uma verdade porque me escondo por trás de jogos e máscaras.

descobri também que recebo tudo isso na mesma medida.

há uma lei só. ela é clara. o que emanamos, atraímos. simples. simples até demais. se fazemos da vida bela em palavras, ela será bela em tudo o mais. no entanto, se fazemos dela puro fingimento, será tudo sempre assim, falso.

gostaria mesmo de poder deixar certas coisas claras mas, repito, medo. fraqueza, covardia, isso tudo aí. e como agora estou ficando velha e louca, pode ser que angarie fundos do fundo de mim pra começar a ser sincera mesmo sem medo de ser feliz - ou ridícula. 

tenho muito pra aprender. começo agora. mas sem remexer velhas verdades. deixe elas pra trás. o segredo agora é só não começar nenhuma mentira nova.

às vezes é sua inimiga a verdade
às vezes é sua aliada a mentira
por onde será que é mais curto o caminho?
qual deles mais sobe?
qual deles mais desce?

o dom da mentira, o som da verdade
a lábia do sábio, a arma do rude
são Deus e o Diabo unidos na prece

segunda-feira, 17 de junho de 2013

de viajar


o encanto se foi, mas eu digo acreditar no bem, na revolução, no amor, no pé-na-estrada, no zen
minha vida é um trem indo embora, trens, estradas, cidades que a você já não empolgam, meu bem
a sua alma adoece no rio ou no nepal
o seu mal nenhuma certeza, o meu mal é certeza total

tenho o dom de viver em qualquer lugar, mesmo quando o medo vem, mesmo quando uma noite é fria
mas o frio, ele é fácil de se espantar
os deuses sabem que a estrada ainda é uma farra
e, depois, o trovão não assusta alguém com essa marra de ser do tipo de cigarra que canta na chuva

domingo, 16 de junho de 2013

o lobo da estepe



"Com o nosso Lobo da Estepe, sucedia que, em sua consciência, viva ora como lobo, ora como homem, como acontece aliás com todos os seres mistos. Ocorre, entretanto, que quando vivia como lobo, o homem nele permanecia como espectador, sempre à espera de interferir e condenar, e quando vivia como homem, o lobo procedia de maneira semelhante. Por exemplo, se Harry, como homem, tivesse um pensamento belo, experimentasse uma sensação nobre e delicada, ou praticasse uma das chamadas boas ações, então o lobo, em seu interior, arreganhava os dentes e ria e mostrava-lhe com marga ironia o quão ridícula era aquela nobre encenação aos seus olhos de fera, aos olhos de um lobo que sabia muito bem em seu coração o que lhe convinha, ou seja caminhar sozinho nas estepes, beber sangue vez por outra ou perseguir alguma loba. Toda ação humana parecia, pois, aos olhos do lobo horrivelmente absurda e despropositada, estúpida e vã. Mas sucedia exatamente o mesmo quando Harry sentia e se comportava como lobo, quando arreganhava os dentes aos outros, quando sentia ódio e inimizade pelos seres humanos e seus mentirosos e degenerados hábitos e costumes. Precisamente aí era que a parte humana existente nele se punha a espreitar o lobo, chamava-o de besta e de fera e o lançava a perder, amargurando-lhe toda a satisfação de sua saudável e simples natureza lupina.

Não se pode negar que fosse, em geral, muito infeliz, e podia também fazer os outros infelizes, especialmente quando os queria ou era por eles estimado. Pois todos os que com ele se deram viram apenas uma das parte de seu ser. Muitos o estimaram por ser uma pessoa inteligente, refinada e arguta, e mostraram-se horrorizados e desapontados quando descobriram o lobo que morava nele. E assim tinha de ser, pois Harry, como toda pessoa sensível, queria ser amado como um todo e, portanto, era exatamente com aqueles cujo amor lhe era mais precioso que ele não podia de maneira alguma encobrir ou perjurar o lobo. Havia outros, todavia, que amavam nele exatamente o lobo, o livre, o selvagem, o indômito, o perigoso e o forte, e estes achavam profundamente decepcionante e deplorável quando o selvagem e perverso se transformava em homem, e mostrava anseios de bondade e refinamento, gostava de ouvir Mozart, de ler poesia e acalentar ideais humanos. Em geral, estes se mostravam mais desapontados e irritados do que os outros, e dessa forma o Lobo da Estepe levava sua própria natureza dual e discordante aos destinos alheios toda vez que entrava em contato com as pessoas.

O Lobo da Estepe perecia por sua própria independência. Havia alcançado sua meta, seria sempre independente, ninguém haveria de mandar nele, jamais faria algo para ser agradável aos outros. Só e livre, decidia sobre seus atos e omissões. Pois todo homem forte alcança indefectivelmente o que um verdadeiro impulso lhe ordena buscar. Mas em meio à liberdade alcançada Harry compreendia de súbito que essa liberdade era a morte, que estava só, que o mundo o deixara em paz de uma inquietante maneira, que ninguém mais se importava com ele, nem ele próprio, e que se afogava aos poucos numa atmosfera cada vez mais tênue de falta de relações e de isolamento. Havia chegado ao momento em que a solidão e a independência já não eram seu objetivo e seu anseio, antes sua condenação e sentença. O maravilhoso desejo fora realizado e já não era possível voltar atrás e de nada valia agora abrir os braços cheio de boa vontade e nostalgia, disposto à fraternidade e à vida social. Tinham-no agora deixado só. Não que fosse motivo de ódio e de repugnância. Pelo contrário, tinha muitos amigos. Um grande número de pessoas o apreciava. Mas tudo não passava de simpatia e cordialidade; recebia convites, presentes, cartas gentis, mas ninguém vinha até ele, ninguém estava disposto nem era capaz de compartilhar de sua vida. Agora rodeava-o a atmosfera do solitário, uma atmosfera serena da qual fugia o mundo em seu redor, deixando-o incapaz de relacionar-se, uma atmosfera contra a qual não podia prevalecer nem a vontade nem o ardente desejo. Esta era uma das características mais significativas de sua vida."

HESSE, Hermann. O Lobo da Estepe.


Acho que me ajuda a compreender várias coisas...

da mentira

parece que na verdade a gente vive num impasse entre a verdade e a mentira. toda hora tem que escolher se vai ser sincero ou falso.

com os outros? a mentira pro outro varia de acordo com a mentira que se conta pra si mesmo. e após cada mentira que contamos para nós, precisamos sustentar mais mil pro mundo lá fora. 

mestra em mentir pra mim, tenho que fingir que não gosto, fingir que não quero, fingir que tá tudo bem. depois de contar essas lorotas pra mim mesma, o segundo passo é convencer os arredores disso. entra então o rosto, o gesto, a fala, a palavra escolhida, tudo pra passar a certeza de que, realmente, não se sente nada, se aceita bem, se toca a vida pra frente sem nenhum arranhão sequer.

agora eu falaria sobre o que realmente é, mas não o faço por medo de descobrir o que tem aqui.

só que pode pegar cada palavra, gesto, rosto e palavra e trocar pelo oposto, pode até florear porque acho que é bem isso daí...



  • Bruno Jardim Do bem e do mal
    Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos.
    Não há coisa na vida inteiramente má.
    Tu dizes que a verdade produz frutos...
    Já viste as flores que a mentira dá?
  • Bruna Camara mentir às vezes faz sentir um vazio, sabe? mas ser sincero pode ser ridículo, então prefiro assim...
  • Bruno Jardim eu já tomei no cu uma vez por mentir para alguém que não merecia. mentir não, omitir. de qualquer forma, a omissão quando tem por fim evitar a verdade torna-se por si só tão mentirosa quanto. a questão é a consciência, sabe? gosto de ter a minha tranquila, magoe quem for.
  • Bruna Camara mentir dói. corrói. mas às vezes sinto que se eu não mentir pra mim farei papel daquilo que sou: uma ridícula. então prefiro distorcer o que eu mesma sinto... caramba, como sou imatura e imperfeita, HAHAHAHAHA! viva a criancice...
  • Bruno Jardim Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir.
  • Bruna Camara Ousa dizer a verdade: nunca vale a pena mentir. Um erro que precise de uma mentira acaba por precisar de duas.
  • Bruno Jardim As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha.
  • Bruna Camara Há uma inocência na mentira que é o sinal da boa fé numa causa.
  • Bruno Jardim a verdade e a mentira são construções que decorrem da vida no rebanho e da linguagem que lhe corresponde. O homem do rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o ameaça ou exclui do rebanho. (...)Portanto, em primeiro lugar, a verdade é a verdade do rebanho.
  • Bruna Camara A mentira deriva, em geral, do medo injustificado.
  • Bruna Camara Mentir é maldade absoluta. Não é possível mentir pouco ou muito; quem mente, mente. A mentira é a própria face do demônio.
  • Bruna Camara Quando as pessoas falam de forma muito elaborada e sofisticada, ou querem contar uma mentira, ou querem admirar a si mesmas. Ninguém deve acreditar em tais pessoas. A fala boa é sempre clara, inteligente e compreendida por todos.
  • Bruno Jardim Se alguém mente sobre você, faça o contrário para que ele se passe por mentiroso.
  • Bruna Camara As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.
  • Bruna Camara É difícil acreditar que um homem está a dizer a verdade quando você sabe que mentiria se estivesse no lugar dele.
  • Bruno Jardim O homem sábio sempre evita dizer a verdade quando ela possa parecer mentira, a fim de não ser injustamente tido por mentiroso.
  • Bruna Camara O orgulho é igual à humildade: é sempre mentira.
  • Bruno Jardim Quando se convive muito com a mentira, ficamos propícios a desconfiar da realidade.