segunda-feira, 17 de abril de 2017

das roupas que encurtam


e de virar mãe, vêm ensinamentos que teriam vindo, embora talvez tarde, embora talvez não.


as calças do neném vão ficando curtas e não, não vão voltar a servir.

nada que se perde vai voltar a caber.

o passado não vai voltar a ser.

esse ensinamento de tempo que passa só se tem de fato e eficiente assim, acredito: quando se vê o tempo passar num ser.

e como doar a roupa? e se é a roupa de que você mais gosta? como se desfazer?

eu vou guardando tudo numa caixa colorida, sem coragem de passar aquela fase que passou, ela passou, mas, meu deus, por que eu não deixo passar?

porque sou alguém apegado. e o apego ocupa espaço. na caixa colorida em que jazem as roupas que já não servem, nada mais pode ir. só vão as roupas passadas já de passado que não volta. porque eu sei que tem uma revista que eu guardo há muitos anos e que nunca mais eu vou abrir. mas ela está ali em seu lugar, surdo, mudo, reativante, potencial, querendo reviver, mas não vai, sabemos bem.

de querer de volta tem o cheirinho de quando meu filho nasceu, tem barca em lagoa floripense, tem dias de alegria efusiva, tem macarronadas em grupo, tem tantas coisas que o passado guarda consigo.

vem, mas demore a chegar.