quarta-feira, 30 de julho de 2014

da afeição da vida


no mínimo surpreendente a maneira como a vida assim nos afeiçoa.
nos roteiros de todo-dia, nos sorrisos que damos sem querer ao ver uma cena boba na rua.

felizes os capazes de rir de bobos, de encantar a própria alma por coisas que, a rigor, se olhadas com olhos-automáticos - esse mal de que padecemos! -, nada são e nada nos mudam também.

nas tramas que o tempo vai tecendo, cabe aprender, sorrir, desaprender só pra aprender de novo só que agora com mais dor - e dor não é, na verdade, amor? -, pra ter mais graça, pra consolidar melhor, pra fazer a gente sentir pulsar mesmo as decisões.

ouvindo histórias, caminhando em rios outros, tenho tido a bela chance de crescer. crescer pro coração abrir, pra ver que se pode ser diferente porque não somos limitados, tampouco somos nomeados senão por nós mesmos, próprios algozes da nossa liberdade.

hoje é dia de inaugurar silêncio lá, e de aqui, entrar também, prum dentro bom, pruma vida menos agoniada. agonia está em pressa não: está em ausência de paz. pressa, por vezes, tem paz. pressa de viver, de contar jabuticabas, porque eu também não sinto que as tenho incontáveis, e por isso dedico meus instantes à belezas e boas palavras, leves, doces.

sentir saturno retornar é infinitamente bom. gratifica. assusta, sim; às vezes chega a doer quando cobra. mas é duma sorte tão infinda ter essa chance de se rever, de se buscar, que pouco importa, porque a dor passa, e ela existe: opta-se por sofrer com ela ou tirar dela o melhor que há, que é a lição e o sorriso. 



Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.

(...)

E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.

A vida assim nos afeiçoa,
Prende. Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel...

quinta-feira, 24 de julho de 2014

pra você não ler


Lembrei de você hoje. Lembrei que contigo eu vi os céus mais lindos da minha lembrança. Sabe o que parecia? Que as nuvens mais bonitas esperaram eu estar junto de você.
Lembrei também hoje que as risadas mais gostosas foram suas. Lembrei que havia uma verdade antes, havia um olhar que eu não sabia bem o que queria dizer e que, infelizmente, provou-se nada, não tem sentido, não disse nada.
Lembrei hoje que certa vez eu te olhei dum jeito outro e não gostei.
Lembrei, ainda, que a sua presença ficou tão familiar pra mim em tão pouco tempo que parecia que eu estava sim no Kansas. Mas eu não estava, Espantalho. Isso, era bem isso que eu sentia por você. Sabe o que a Dorothy diz pro Espantalho lá na Cidade das Esmeraldas, quando está prestes a voltar pra casa? Ela diz: “É de você que eu vou sentir mais saudades”.
Lembrei que eu teria parado o tempo diversas vezes.
Lembrei que eu nunca quis fazer mal pra ninguém. Mas ando me dando conta de algumas constâncias em mim, de aversões que desperto, geralmente em pessoas que mais me gostaram. Não entendo ainda porquê. Talvez eu nunca entenda, mas hoje eu lembrei de você e de como sempre foi perfeitamente e magnificamente bom poder estar contigo.

Por muitas vezes algo assim aconteceu. Por muitas vezes eu, que te disse pra nunca criar expectativa, criei tantas, que fiquei tempos sem fim esperando um som, um barulho, um sentido, algo que me fizesse saber que, de algum modo, alguém ainda se importa. Mas isso nunca veio, justamente porque eu esperei. E, embora eu saiba que no fundo eu ainda provavelmente vou passar tempos imaginando uma palavra, me convenci de que não espero, então não espero. Simples. Mas pode aparecer. Ou pode me esquecer, se você quiser. Eu já esqueci que te lembrei hoje porque já é quase amanhã, por 20 minutos, já é quase a hora em que eu quase sempre de algum modo eu... (não continua)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

da falta

tem estratégia pra enganar a gente mesmo. os olhos mentem dia e noite a dor da gente. eu minto porque acho mais fácil assim: minha razão se convence de tal maneira que em pouco tempo passo a acreditar e pronto, tá resolvido.

mas no fundo, num fundo que prefiro não tocar, eu sinto falta. eu sei a falta. eu quase a consigo tocar com os o olhos, sei a cor, sei até mesmo em que cantinho eu a guardei. coloquei numa caixa colorida, encapada com papel de presente, e deixei ali. passo os olhos por ela, rearranjo, endireito pra não destoar das outras caixas todas, arranjadas e endireitadas. olho bem pra ela e sinto uma vontade de abrir. mas uma vontade das que a mão quase treme. não, não, deixa pra depois. deixa pra abrir essa caixa quando de algum modo ela puder esboçar sorrisos. por ora, ela esboçaria só falta.

de todo modo, quando passo os olhos pela caixa bonita, é como se eu pudesse dizer exatamente tudo que há dentro dela. sei, quase sinto de tão real. tem vezes infinitas de risos, tem conversas boas, tão boas, mas tão boas, das que não se encontra toda hora. tem risos sinceros, tem contação de histórias daqui e daí, tem caminhos percorridos juntos, separados, mas sempre compartilhado. tem música, tem bastante música que não tinha sentido e agora tem, só que agora? pô, agora não dá, agora é melhor mesmo eu re-significar, de novo, de novo. eu não sei se aguento isso mais uma vez... é, agora lembrei do que tem na caixa também: tem precipitação. tem medo. tem fim.

e o fim é belo e incerto, depende de como você vê!

deixa a caixa lá. volto em alguns meses pra tirar poeira dela e quem sabe eu já consigo abrir e sorrir ou, melhor, já consigo simplesmente passar o olho e deixá-la quieta no lugar sem que ela me lembre, gritando, que eu sinto falta.

domingo, 20 de julho de 2014

da inteireza

sentir-se pleno vai pra além de sentir-se feliz.

plenitude é mais que abundância. é mais que perfeição ou completude: aliás, está bastante longe de ser a perfeição, dessa dual, que se contrasta com o imperfeito.

plenitude é o que sinto estando com meus amores todos. é tendo vozes bonitas pra ouvir, é montar estantes e separar brincos por cores, colocando os que não têm par numa caixinha específica. plenitude é ter conversas cheias de assalto-ao-turno, discussões sobre moralidade e risos bobos ao tornar toda e qualquer palavra uma sílaba engraçada pela simples alegria de ser.

retomando o passado ou conjecturando futuro, sei por bem que meu melhor momento é já. é a próxima viagem de trem a só, é a próxima música mineira cantada no bar das baratinhas, é a vida que se encerra ali mas se abre aqui, é a porta nova, é a não-lembrança, o jogo na dança das mãos, o olhar bruto e bom do lugar de onde se é.



às minhas preciosidades, obrigada, gratidão sem fim por tornarem qualquer, qualquer, qualquer lugar e momento o melhor da minha vida para sempre.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

da criança


de pequeno, somos ensinados a não saber lidar com frustrações. sim, porque não há santo ou mãe-e-pai capazes de nos ensinar a não nos frustrarmos: frustrações haverá. haverá porque nós insistimos em criar expectativa. daí nada vem de leve. bom, de todo modo, lá vamos nós, protegidos pela sociedade protetora da criança-adolescente, quiçá do adulto que disso ficou bobo. pois bem. só que num dado momento viramos adultos de fato e continuamos na sede da expectativa. por vezes, a expectativa é de que alguém retribua nossos sentimento; outras vezes, de que se viva algo pleno ou perfeito; há, ainda, a expectativa de todas a mais egotista: de que o outro nos goste para além daquilo que nós mesmos podemos gostar e de que o outro nos jogue uma tonelada de confetes ao ego.
mas vem o não.
não, ele não vai retribuir seu sentimento. ela também não vai querer viver contigo de mãos dadas seguindo junto pelo simples fato de que com você ela não quer. quer outro, quer ninguém, quer nada. e, sobretudo e principalmente, ela não gosta de você o tanto que você queria que ela gostasse, mais do que você gosta, só pra inflar seu ego gordo.

pois é. cresçam, crianças. cresçam porque esperar é se frustrar e descontar a frustração no outro é balela. é a velha história de tacar carvão na parede, fazer até umas sujeirinhas no branco mas ficar todo cagalhado de preto, mão, rosto e coração. aceite. só aceite. abra mão. baita babaquice. 
caso se opte por não aceitar e manter o chilique, não ha problema. basta deixar pra lá, afinal, se trata de criança, e criança faz a birra, é da natureza dela. e não cabe ir atrás dela, não: deixe-a espernear pra lá, que uma hora há de passar. mas não sou mãe, não tenho paciência; então, quando passar, nem venha me contar, pois já não faz a menor diferença.
ah, o aprendizado bom de que as pessoas podem sempre ser mais babacas do que a gente poderia imaginar. ainda que saibamos o quanto alguém é, de fato, babaca, sempre achamos, por uma razão profundamente babaca, que conosco não haverá tamanha babaquice, afinal, somos especiais. ledo engano. o traidor trai qualquer um. se trai a cada passo que dá, inclusive. o leal é leal a todos, sobretudo a si mesmo. assim como o babaca é babaca em todos os âmbitos da vida e com todos que cruzarem seu caminho. mas, de todo modo, conforta a certeza de que quem mais perde com isso é o próprio babaca. é ele quem está constantemente infeliz. é ele que não consegue absolutamente nada daquilo que quer. é ele quem sorri pouco, não tem amigos reais e não constrói relações verdadeiras. ao invés de se perguntar pra onde vão as relações, por que não construí-las e valorizá-las? ora, simples. a resposta está na sua própria vida, que fora sendo embabacada por você mesmo ao longo do tempo. não, ninguém muda. somos os mesmo e vivemos como vivíamos em qualquer outra cidade, menor, maior, com mais ou menos gente.
grata à sua babaquice que me fez ver o quão fantásticos são os meus amores reais! :)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

dos roteiros

não há caminho errado. se há, eu o ando, pela simples alegria de ser...

os anos passam, o tempo, se anda ou corre, se simplesmente é. tem respostas que nem precisam ser dadas, afinal, de nada ajudariam e, na real, a única maravilha é poder andar por ele, pela linha que se cria.

das últimas cenas, tem nem o que ser dito. não há palavras que mostrem. o sorriso mostra mais. 



sorte, ah, que sorte, ter no coração e na história outros corações e outras histórias que pulsam, que vivem, que colorem, que são desenhos bons.



de estar em beira de estrada, de caronear, de ver pôr-do-sol e vinda-de-lua das mais incríveis que sentiram meus olhos, de companhia sincera.

a conclusão que vem de que não há nada que dê certo ou dê errado. há só o que há. simples. aceitemos. é bom aceitar o que vem. dá brilho. faz ter sol, faz ter lua, faz ter sorriso, faz ter, sobretudo, verdade.



a vida vai tecendo laços, poeta. não é mesmo toda fel. fel eu nem vi. se vi, já esqueci. o que me fica são belezas e saudade da boa, de quem bem viveu! é um carinho guardado no cofre de um coração que voou, e um afeto guardado nas veias de um coração que ficou...

grata por ter decidido ir, por não ter dado asas à nenhuma inércia boba que por vezes insiste em nos prender os pés na terra. lançar a alma no espaço que me tem sido o ar.

o ar, grata por entrar no meu mapa.



à cidade que me recebeu com meu espantalho e meu homem de lata ao lado, me rindo e me garantindo incertezas de que a vida é isso mesmo, de que o coração é esse bobo que bate lá tanto quanto bate aqui, que sente por todos no fim o mesmo amor, embora repouse bem aqui a minha verdade e meu sonho feliz de cidade que já bem chamo de realidade!

there's no place like home!

domingo, 13 de julho de 2014

do seu silêncio

Quando você vem ou não?
O que você quer de mim?
Deixo por aí...

O que você tem?
De onde você é?
Pode me esquecer se você quiser
Ou se deixar chover, se você vier

Eu vou te acompanhar de fitas
Te ajudo a decorar os dias
Te empresto minha neblina
Vamos nos espalhar sem linhas
Ver o mundo girar de cima
No tempo da preguiça

Mas tudo bem
O dia vai raiar pra gente se inventar de novo

O que você é, enfim?
Onde você tem paixão?
Segue por aí...

Eu não sou ninguém de mais
E você também não é
É só rodopiar em busca do que é belo e vulgar

Vamos onde ventar, menina
Foi bom te encontrar lá em cima
Odeio despedidas

Mas tudo bem
O dia vai raiar pra gente se inventar de novo

E o mundo vai nascer de novo!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

das mentiras que se conta sem querer

mentir é sempre sofrido. sempre machuca na hora que se formula, na hora que se conta, na hora em que se acredita. mas pior de tudo é contar mentira sem querer. porque no fundo quase nunca se quer ferir o outro, mas sem querer deve-se ter machucado.

olhar tudo de fora, agora, é tão simples. caramba, muito simples. a confusão é fruto de carência, de ausência de quem se gosta verdadeiramente.

da abolição das chatices, mas também da vergonha de se ter pensado que sentia quando não se sentia nada. por isso, fica a dica pra minha próxima confusão: se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer. simplesmente devia ter ficado calada.

perdão.

terça-feira, 8 de julho de 2014

do meu canto em que eu sou eu


apesar da tristeza de deixar amores, de deixar diversos pequenos pedaços de vida pelas quais o coração bate, a sensação, a velha sensação de estar em casa é daquelas inigualáveis.

que eu fui fazer? estava procurando o quê?

acho que não haverá resposta cedo, mas me importo pouco, já que aqui tem tanto a se viver no meu coração.

eu fico agora aqui e eu, lá num canto bem dentro de mim, sem desejo ou expectativa, espero (de esperança) que o coração dentro do qual o meu ficou fique também e seja lembrança boa, e me encontre em outro momento, porque distância não há, nem pressa, nem tempo. foi bom ter-me sentido inteira.

obrigada, minhas princesas lindas de vida nova em tudo.
obrigada, cada um que cruzou as ruas de cidade de flores e belas vistas
obrigada, amigo, que me emprestou não só sua vida pra eu passear, errando, correndo, mas sobretudo por me dar um lado-seu.