sábado, 18 de abril de 2015

das lembranças esquecidas



ao longo do tempo, as memórias vão se desfazendo, como se borrassem. e o pensamento tenta resgatar baseando-se em pedacinhos de lembrança, de bairros de casas.

não tenho das melhores memórias. lembro bem dos aniversários dos outros, dos antigos. mas dos fatos em si, do que aconteceu comigo, lembro-me bem pouco. esvazio inclusive importâncias por ser assim, pois desconstruo sentidos e é como se pedaços dos outros não tivessem sido. desculpem-me todos... mas de fato não lembro das coisas que você me falou aquele dia tampouco me lembro de quando fomos juntos àquele lugar incrível. no entanto, lembro-me bem das coisas que não fiz.

por vezes, basta uma ajuda para que eu consiga realmente lembrar de algo. mas, no geral, vivo dum modo intenso o presente. cada paixão nova é imensamente mais forte do que a antiga. cada novo dia tem a obrigação e o compromisso estreito de falar a mim mais perfeito do que o dia anterior. talvez seja sem querer essa a minha meditação. 

agora, depois de tanto não lembrar e de nem mesmo querer, tenho revivido lugares. descobri onde foi que brinquei, em 91, num quintal lindo de caquinhos e cimento, numa espécie de porão, com uma pipoqueira que acendia uma luz. e tinha uma fábrica bem grande de tijolinhos na subida logo na frente da casa, com as janelas quebradas. mas agora é um conjunto de prédios. como muitos cenários de quem nasceu nos anos 80. 

faltam certas coisas que pretendo resgatar.

aurora vai ter a vidinha construída sob meu olhar amando. daqui a 20 anos quero poder responder a ela onde mesmo foi que ela brincou aquele dia. onde foi, mãe? ah, como eu não vejo a hora de escutar um serzinho pequeno me falar: "ô manhê...". eu vou saber sempre responder, vou ser sempre a guardadora das memórias que na lembrança dela estiverem borradas. além disso, assim que ela chegar, vou automaticamente virar uma ótima cozinheira e aprenderei instantaneamente, como se um programa instalado à la matrix, a cuidar de roupas brancas.

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