quarta-feira, 8 de julho de 2015

do machismo estrutural


para além do aborto masculino, outras verdades sejam ditas sobre o machismo estrutural que assola o mundo - e que nós, sem querer, giramos a roda a todo momento.

sem novidades sobre a concepção de um filho. é o que é, sempre foi da mesma maneira. não somos planárias ou platelmintos. é feito em conjunto. haver amor ali ou não é só um detalhe - ainda que na minha cabeça de princesa quadrada e ridícula, o amor tivesse quase que a obrigação de fazer parte disso. mas, ledo engano, querida: o amor está em algumas camas só.  não em todas. não estava na minha.

dentre milhares de baboseiras que escutei recentemente, eis a maior: mulheres solteiras que pedem pensão pro pai de seus filhos o fazem porque ainda gostam deles e querem chamar a atenção.

oi??

não. elas não gostam deles. elas podem simplesmente ser trabalhadoras pra caralho e não terem a quem recorrer pra custear a chegada de um filho, feito a dois, a propósito. 

elas podem, inclusive, ter feito isso por ser o último recurso. ora, venhamos e convenhamos: acionar a justiça é o meio mais demorado e complexo de se conseguir algo. quando uma pessoa opta por isso, garanto: há uma chance grande de ter sido essa a única escolha.

elas podem ter simplesmente visto que, de outra forma, teriam de continuar arcando sozinhas com tudo. e isso está longe de ser justo. elas podem ter percebido, logo cedo, que naturalmente o pai da criança não iria se prontificar a fazer nada que envolvesse responsabilidade. e amar é se responsabilizar. ter filho não é dar chocolate e pirulito e ensinar a andar de bicicleta. tem outras coisas importantes também.

claro que pode existir uma parcela de mulheres que, de fato, ainda gostam dos pais de seus nenéns e querem de alguma maneira fazer uma birra se o cara não quer assumir, sei lá. mas mesmo essas mulheres: caso esses homens fossem homens (e não estou falando de comer mulher pra caralho, porque isso está longe de ser hombridade), elas nem teriam COMO acionar a justiça para eles colaborarem, uma vez que eles colaborariam por pura e espontânea vontade, a despeito de estarem ou não com elas. elas nem prerrogativa teriam para isso. 

ou seja, fica claro: qualquer homem que tenha sido condenado pela justiça a pagar pensão alimentícia a um filho NÃO É UMA VÍTIMA. não é JAMAIS uma mulher que decide o valor ou as condições de um pagamento sentenciado judicialmente: quem determina é a justiça. e pronto. uma mulher que pedir um absurdo a um homem que não tiver condição de pagar simplesmente não será atendida em seu pedido. é simples. para tais análises e decisões, há toda uma estrutura. longe de mim dizer que tudo está correto no meio judicial. o ponto é que mãe que pede valores exorbitantes e irreais numa ação processual certamente, fatalmente, obviamente não terá sucesso. simples. um juiz não sai acreditando em conto de fadas. ele costuma ler o processo e sentenciar de acordo com as possibilidades de cada um.

cabe lembrar o óbvio: os 30% dos rendimentos que se convenciona sentenciar aos pais não casados com as mães de seus filhos são de extrema importância, úteis, fantásticos. mas alguém imagina uma mãe recebendo o salário e separando 70% para si mesma e 30% pro seu filho? não há essa divisão entre mãe e filho. e não deveria, em um mundo ideal, haver entre pai e filho também. 

homens bons, deles o mundo tá cheio. eu pessoalmente conheço vários. e acho, hoje em dia, que sou bem capaz de reconhecer um quando o vejo. não faz meu estilo ser moralista, feminista, e acreditar nos clichês de que homem é tudo igual, homem é tudo safado... pessoas são potenciais de tudo. de todos os lados e aspectos que se pode imaginar.

reza a lenda - e eu boto fé! - que meu pai ficou grávido com minha mãe. ele levava frutinha cortada no trabalho pra ela e a presenteou com uma meia kendall pra ela não ter varizes. depois que nasceu a minha irmã, ele lavava fraldas de pano (anos 80...) no tanque loucamente. ele não é um herói por isso. ele é pai. fez - e faz - a parte dele duma maneira que é difícil falar sem encher o olho de lágrimas. que o universo prepare a meus filhos um pai que seja ao menos um décimo do que o meu é. já fico tranquila e descansada sabendo que eles estão em boas mãos.

a grande questão nessa história é que é muito simples para um homem simplesmente abortar um filho e dar uma razão qualquer que seja. geralmente alguma razão baseada num outro machismo. fica a dica: não tá pronto pra ser pai? não gosta da mocinha? use preservativo. não coloque essa responsabilidade apenas na mão dela, pois a responsa é dos dois. no caso de uma gravidez, é fato que quem levará a maior parte da responsabiidade é a mulher, uma vez que o neném tá grudadinho, fisicamente, lindo e peixinho, nela. e tudo bem. é lindo sentir isso. apenas não me parece correto ou digno, ao ser cobrado a contribuir financeiramente, que um pai aja como vítima das circunstâncias e da maldade diabólica das mulheres, safadas que são desde os tempos mais primórdios, né?

antes de apontar o dedo na cara de uma mulher e dizer que ela pediu ajuda judicial porque é fraca, ou porque ainda gosta do cara e quer 'causar', ou porque é uma exploradora, seria bem bacana pensar... depois de pensar, seria ainda mais bacana pesquisar, entender do que se trata uma pensão alimentícia e compreender de que maneira um valor é determinado. senão caímos na baboseria machista de sempre, mais do mesmo, conversa pra boi dormir que mantém a gente no mesmo estado e na mesma frequência de inutilidade.


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