quinta-feira, 4 de março de 2010

um meteoro


Eu não tenho uma facilidade muito grande, por assim dizer, em expressar qualquer coisa que eu sinta, boa ou ruim. Escrever é bem mais fácil, muito embora eu já tenha tido provas suficientes de que não é o meio mais eficaz. Isso porque ninguém está interessado em aguardar palavras escritas, mas sim em gestos feitos e frases ditas. De todo modo, eu escrevo agora a alguém de quem eu gosto bastante, por quem tenho um carinho sincero com trilha sonora de barulho de chuva no telhado.
Ele tem cara de bravinho emburrado, olhinhos pequenos, parece um menino na maioria das vezes. Mas mesmo assim eu sempre o vi como homem, como mais inteligente, mais competente que eu. Afinal, ele sabia que na guerra do Vietnã a quantidade de vietnamitas mortos é 4 vezes maior que a de norte-americanos. Ele me surpreendia a cada instante que eu ficava perto, e sempre tinha palavras certas. Eu o olhava de baixo pra cima, como se ele me detivesse em tudo, fosse superior em todos os aspectos que eu tentasse medir. Aí uma hora eu parei de medir e admiti pra mim mesma que sim, ele já detinha tudo que podia e era infinitamente superior a mim.
O jeito que ele mexe a mão, que ele respira, que ele suspira(va), era tudo tão friamente calculado que me fazia ter até medo de olhar demais e depois não conseguir mais ficar sem. Ah, sem contar que ele reclamava de tudo e parecia ser sempre um desafio fazer ele se sentir bem. Eu gostei de cada conversa, e foram poucas, pouquíssimas, muito menos do que eu naquela época gostaria que fosse. Ele entrou na minha vida sorrateiro, dizendo que gestos valem mais que palavras e protagonizou gestos simples, gestos que eu nem sei se eram sinceros mas que hoje pouco importa saber. O ar que eu precisava respirar no início do ano era o dele, e foi, e por isso já sou grata.
É uma figura estranha esse sujeito que dormiu um dia me achando a menina mais legal do mundo e agora mal fala comigo. Isso doeu, mas agora não dói, porque gostar gratuito é assim, e eu sempre soube que era gratuito, embora ainda não tenha entendido muito bem por que raios eu o conheci. Mas pra tudo há um propósito – é?? – e eu continuo tendo o maior carinho do mundo por esse bravinho mesmo que ele seja chatinho, grosso, mal-humorado. Ele entende as piadas de Cidade de Deus, de Tropa de Elite, ele é seguramente um alguém que, se eu pudesse voltar atrás, teria sido só amiga pra que hoje nós ainda fôssemos amigos, porque ele é ótima companhia, ele ri das piadas idiotas que eu faço, e ele me faz rir também. Ele tem o mesmo senso de humor, ele bebe, ele não se importa com a minha desclassificação, ele tem uma família linda, é amável (com todos, menos comigo...), é carinhoso e me faz bem.
Em breves linhas; ele é PHO-DA². Mas ele não sabe. Ninguém conta, hein. Segredo.

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