terça-feira, 2 de julho de 2013

do tempo


quando nos damos conta de que o tempo não existe, parece tão óbvio que dá até aquela sensação: "caramba, como não descobri isso antes?"

costuma-se olhar pro passado e ver um "eu" com outras roupas, outros amigos, outra estrada sendo percorrida. outra face, outro corpo. aquilo vira um ente, algo em si, sendo que basta observar um pé-de-planta pra se dar conta de que a semente não existe em lugar nenhum do passado: ela está ali, no presente, como planta. como o que é. porque não existe linha do tempo. existe o que existe. existe o rosto que se vê, o corpo que se tem, a luz do dia ou da lua, o que está.

talvez se há um ano eu soubesse disso não teria pedido pro mundo acabar pra eu poder sair de onde estava.  mas teve de ser da maneira como foi. pra que houvesse depois a compreensão. mas 'antes', 'depois', tem isso não!

toda e qualquer preocupação reside no 'antes' ou no 'depois'. se me perguntar: "AGORA, que problema eu tenho? que preocupação tenho?", é fácil perceber que  provavelmente não há questão nenhuma pra ser remoída no momento presente. se há, tem de agir ao invés de pensar! afinal, há só dois tipos de situações na vida: as que dependem de nós e as que não dependem de nós; estas, por não dependerem de nós, devem ser deixadas de lado a cargo de quem possa resolvê-las; já aquelas, sobre as quais devemos e podemos agir, basta agir, sem preocupações, sem gasto inútil de energia da mente.

é que temos essa impressão de que na mente se pode resolver as questões. dái vamos, voltamos, fazemos conjecturas, estabelecemos diálogos fictícios, lembramos e relembramos o que já foi. e não vai resolver nada...

não tem tempo não. 

e, pras escolhas, cada uma criaria uma realidade. e na verdade cada passo é uma escolha. poderíamos ter feito outro caminho, ter demorado um segundo a mais ou a menos pra virar à esquerda, o que determinaria se um teto desabaria na nossa cabeça ou não. sempre lembro do sorveteiro que passou embaixo do toldo da farmácia bem na hora que ele resolveu cair. era pra ser, será? de certo modo estranho, alguma escolha feita naquela manhã definiu a morte dele. será que ele levantou no exato momento que a mulher o chamou? será que ele tomou o café que ela fez com carinho pra ele ou, por estar um pouco atrasado, resolveu sair sem agradá-la (só uma mulher entende o quão prazeroso é alguém tomar nosso café! é um dos melhores presentes que se pode dar!)? o que será que o fez decidir ir vender sorvete na av. do rio pequeno? ou ali era caminho pra ele ir pra outro canto? nunca vou saber. e também não adiantaria muita coisa... cada realidade que poderíamos ter criado existe em algum canto do mundo das idéias. e, lá, talvez eu esteja morta, talvez eu tenha seguido alguma carreira glamourosa e não seja feliz. talvez eu nem exista. talvez eu seja uma borboleta...

era uma vez um sábio chinês que um dia sonhou que era uma borboleta, voando nos campos, pousando nas flores, vivendo assim um lindo sonho.
até que um dia acordou e pro resto da vida uma dúvida lhe acompanhou: se ele era um sábio chinês que sonhou que era uma borboleta, ou se era uma borboleta sonhando que era um sábio chinês.

para aquele homem que faz depender de si mesmo todas as coisas que conduzem à felicidade, ou disso se aproxima, e não fica na dependência de outros homens, cuja boa ou má fortuna forçaria também a sua própria sorte a oscilar, para ele a vida está disposta da melhor maneira possível. esse é o homem temperante, esse é o homem corajoso e prudente. esse homem, quando lhe sobrevierem riquezas e filhos e quando ele os perder, mais confiará no provérbio; e, por confiar em si mesmo, nem alegre nem aflito em demasia ele se mostrará.

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