domingo, 24 de agosto de 2014

da ordem natural das coisas


por vezes nos afastamos tanto da natureza, que passamos a confundir o 'natural' com o 'comum'. o curso natural não é o comumente seguido. pra perceber o que é natural, deve-se primeiro estar também sem artifícios.

o natural vai brotando aos poucos. a semente pode ser o 'oi', o olhar sincero, o tentar, o confiar, o acreditar, o deixar entrar na nossa casa sem receio porque, afinal, a gente atrai o que vibra. se vibro bem, quais as chances de vir para mim algo que assim não seja?

e dá início, então. o bem entra e ele se instala devagar. o amor não tem costume de vir avassalador, de supetão, não. assim podem vir outras coisas, boas também de se viver, mas o amor é tão calminho... calmo sem ser enjoativo; calmo sem ser chato e entendiante; calmo, simplesmente. não atropela as etapas.

vem vindo, vindo... geralmente o amor brota mesmo. ele não vem no bater de olhos. no bater de olhos pode ser que venha a afinidade. a vontade, a boa conversa, o encanto. são pequenas coisas. brota e vai crescendo, se rega com palavras doces, com visitas inesperadas quando se diz que está triste, com pequenas surpresas bobas, que às vezes até deixamos passar, sem nos dar conta de que estamos alimentando de luz e água a semente. 

há que se esperar. nada se pode fazer, não tem como o natural ser diferente. o natural é plantar a semente, e cuidar: caso contrário, ela não vai florir. e de cuidado em cuidado, de carinho em carinho, se tem de repente uma planta brotando, e há botões, tão novos, que se olha e vê que serão lindos, e já são lindos, e precisam de mais cuidado, cuidado sem fim. 

daí se cuida mais, se entrega, se deixa ir sem pressa. se inventa tempo pra cuidar. se cria dia e se troca a noite, se instala o outro nos seus olhos para poder compartilhar o que se vê e sente, todo tempo.
nisso a planta vai florir, vai agradar aos olhos e também à alma. 

para quem chega e simplesmente vê a flor? a vê ali, florida, linda. agrada, claro. mas, para esse que apenas quer ver a flor bonita dando cores ao dia, serve que seja uma flor de plástico. por vezes, esse nem mesmo sabe diferenciar, e dirá até que prefere a de plástico, afinal, não requer tanto cuidado e surte o mesmo efeito visual.

efeito visual. será essa a questão? é comum enfeitar com flores de plástico. é fácil. é cômodo. e pros olhos dos desatentos é a mesmíssima coisa. aos desatentos, a flor real e a de plástico têm o mesmo resultado, mas a real requer recursos. requer que se entregue e doe.

ao desatento, o sentido da flor real não se verifica. é custoso. é trabalhoso. pra quê?

mas, ah, àquele que a cuidou, que a amou de água e luz, o sentido está além. não é apenas uma flor bonita que enfeita a casa: é um pedaço seu também, é parte do cuidado oferecido, é a vida se abrindo em bem.

o cuidado foi pra flor aparecer? e depois que ela aparece, alguns desavisados podem se dar por satisfeitos e simplesmente olhá-la e dizer: "tarefa cumprida!". será? cumpriu-se?

o bom cultivador se mantém cuidando. a flor irá brotar diversas vezes, ano após ano, enfeitando a vista e os sentidos. cuidado e carinho não têm fim. se renovam, como se renova a flor, ela volta, setembro nos diz.

há ainda que se ficar atento à que flor fora essa escolhida pra cultivar. sim, pois cada uma delas tem sua especificidade: umas precisam de sombra pra florir, outras de claridade; umas têm necessidade de água diariamente, enquanto outras bem sobrevivem com bem menos água. é preciso conhecer o objeto do nosso cuidado, do nosso amor. amor é também conhecimento.

sem palavras e sem tempo pra quando se descobre que ainda existe quem acredite na ordem natural das coisas.

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