segunda-feira, 28 de maio de 2012

da boa resposta e do prêmio

hoje passei por dois momentos que suscitaram bastante reflexão.

estava lá, linda e garbosa na aula de filosofia antiga. lembrei do meu ex-marido. quando o conheci, estávamos na graduação e, sabe comé, aluno de universidade pública só tem conversa 'elevada', vulgo 'papo cabeça', e nós dois éramos diferentes disso tudo: falávamos de absolutamente tudo e com alegria de criança! um dia estávamos conversando bem sobre isso mesmo, sobre as pessoas da universidade e da maneira como sempre queriam conversar sobre assuntos sérios e citar autores e fazer prevalecer a sua visão dos fatos. conversa importante é legal e engrandecedora, mas com a pessoa certa e na hora certa. ele tentava me convencer de que, sobretudo para aquelas pessoas ali mas também pra grandissíssima parte da população, toda conversa se trata de uma competição argumentativa, em que pouco importa a realidade dos fatos. e hoje o meu professor estava lá comentando que, no contexto da Grécia Clássica, lá com seus retores e sofistas discursando, toda e qualquer conversação era um ágon, ou seja, uma disputa, uma competição que pressupunha necessariamente um vencedor. e sócrates parecia não concordar muito com essa afirmação. enfim, na pós-graduação a arrogância dos alunos aumenta e eles começam a achar que podem e devem fazer comentários in-crí-veis no meio da aula, comentários esses recheados de nomes de autores alemães, pra mostrar pra todo o resto da sala que conhecem todos os ramos da filosofia... daí então me vem um cidadão que exemplifica esse modelo uspiano e pergunta se uma determinada posição de sócrates perante um rapsodo num determinado diálogo tinha relação com um autor de nome BEM esquisito do qual eu nunca ouvi falar... mas é importante notar que há duas formas de perguntar.

1) Professor, isso tem a ver com isso?
2) Professor, isso tem a ver com isso. Né?

no exemplo 1, ainda que o cidadão tenha essa arrogância toda aí, dá pra notar uma dúvida, sabe? de repente o cara lembrou de outro autor naquela circunstância e quis saber do professor se REALMENTE fazia sentido o que ele tinha pensado. ok, ainda com o nome finlandês, sueco ou eslavo do autor que ele lembrou e leu no original, tava tudo bem.
no exemplo 2, que foi o caso hoje, o rapaz deixa claro que está afirmando e só quer que o professor confirme sua SUPER sacada pós-moderna.

resposta do professor, em tom calmo, tranquilo e de boaça: "não, tem nada a ver. pode ir pro intervalo, galera."

às vezes o professor nem conhecia o autor do qual o rapaz tava falando, e como tá acostumado com aluno bocó com necessidade de exibição, já tratou de acabar com a graça dele não dando muita atenção. ou então não tinha nada a ver mesmo. voto na última opção.

* * *

aí no intervalo, rindo por dentro do aluno inteligente do autor alemão, fui tomar café. sentei num banquinho bonitinho no meio das árvores louquinha pra ficar sozinha curtindo minha própria respiração - que tenho aprendido ser o melhor a se fazer em diversos momentos - quando me vem uma duplinha de intelectuais compartilhar o mesmo banco. pensei em levantar, olhei os bancos em volta e estavam todos ocupados por pessoas tomando seus cafés. aí fiquei lá mesmo. e eles começaram a conversar. um era mais novo, pique mestrado, e o outro um pouco mais velho, pique pós-doutorado. uns 10 anos separam eles, acho. enfim... o mais novo já chegou dizendo que estava muito feliz. eu não entendi porque, mas o amigo dele entendeu e falou: "sim, muito bom você ter ganho o prêmio". já inferi então que ele havia ganho algum prêmio acadêmico, afinal, é só disso que se fala por lá. e começaram a discorrer e algumas informações ficaram claras pra mim: o rapaz mais novo estava mesmo no mestrado e se destacou por uma produção acadêmica. o mais velho era professor e membro do departamento de filosofia ou algo assim. o novinho contestou, dizendo que ganhou mas não ganhou nada. ora, a frase é redundante por si só. e o mais velho respondeu, com toda categoria - e já meio sem paciência: "oras, você ganhou o prêmio!". o mais novo então, ingênuo que é, disse: "eu digo algo material, dinheiro mesmo, sabe?". diante da imaturidade do pupilo, o professor disse: "menino... sua geração não dá valor: dá preço."
nessa hora, é CLARO que eu ri. já tinha terminado meu café, levantei e fui pra segunda parte da aula rindo por dentro.

adoro professor que desbanca aluno metido a besta!

Um comentário:

  1. Nossa! Muito perfeito! Nos primeiros anos de faculdade, bem que os professores tentam mostrar aos alunos que eles não são PORRA NENHUMA, mas muitos não aprendem nunca! É impressionante!

    ResponderExcluir